sábado, 18 de agosto de 2012

Vocação


Falamos muito de vocação. Quando dizemos que alguém tem vocação, afinal o que queremos dizer? A palavra vocação vem do verbo no latim "vocare" (chama?). Assim vocação significa chamado. É, pois, um chamado de Deus. Se há alguém que chama, deve haver outro que escuta e responde.

A vida de todo ser humano é um dom de Deus. "Somos obra de Deus, criados em Cristo Jesus" (Ef 2,10). Existimos, vivemos, pensamos, amamos, nos alegramos, sofremos, nos relacionamos, conquistamos nossa liberdade diante do mundo que nos cerca e diante de nós mesmos.

Não somos uma existência lançada ao absurdo. Somos criaturas de Deus.

Não existe homem que não seja convidado ou chamado por Deus a viver na liberdade, que possa conviver, servir a Deus através do relacionamento fraternal com os outros.

Você é uma vocação. Você é um chamado.

Encontramos na Bíblia muitos chamados feitos por Deus: Abraão, Moisés, os profetas... Em todas as escolhas, encontramos:
  • Deus chama diretamente, pela mediação de fatos e acontecimentos, ou pelas pessoas.
  • Deus toma a Iniciativa de chamar.
  • Escolhe livremente e permite total liberdade de resposta.
  • Deus chama em vista de uma missão de serviço ao povo.
Vocação é o encontro de duas liberdades:
  • A de Deus que chama
  • A do Homem que responde
Podemos fazer uma distinção entre os chamados: vocação à existência, vocação humana, vocação cristã e vocação específica, uma sobrepondo-se à outra.

Vocação à existência - À vida

Foi o primeiro momento forte em que Deus manifestou todo o seu amor a cada um de nós. Deus nos amou e nos quis participantes de seu projeto de criação como coordenadores responsáveis por tudo o que existe. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. A vida é a grande vocação. Deus chama para a vida, e Jesus afirma que veio para que todos a tenham em abundância. (Jo 10,10)

Vocação humana - Ser gente, ser pessoa

Foi nos dada à condição da "liberdade dos filhos de Deus", inteligência e vontade. Estabelecemos uma comunhão com o Criador e, nessa atitude dialogai, somos pessoas. A pessoa aprende a conviver, a dialogar, enfim, a se relacionar. Todos têm direitos e deveres recíprocos.
Infelizmente, a obra-prima do Criador anda muito desprezada: enquanto uns têm condições e oportunidades, outros vivem na miséria, sem condições básicas para ressaltar a dignidade com que foram constituídos. No mundo da exclusão acontece a "desumanização"'e pode-se perder a condição de pessoa humana.

Vocação cristã - Vocação de filho, de batizado

Todo batizado recebeu a graça de fazer parte do povo eleito por Deus, de sua Igreja. Através da vocação cristã, somos chamados à santidade, vocação à perfeição, recebendo a mesma fé pela justiça de Deus. Fomos, portanto, eleitos e chamados pessoalmente por Cristo para ser, como cristãos, testemunhas e seguidores do Mestre Jesus. Chamados â fé pelo batismo, a pessoa humana foi qualificada de outra forma. Assim todos fazem parte do "reino de sacerdotes, profetas e reis". (1 Pd 2,9)

Toda pessoa batizada tornou-se um seguidor de Cristo, participante de uma comunidade de fé que pode ser chamada para participar da obra de Deus, como membro de sua Igreja, seguindo caminhos diferentes:

Vocação laical (no matrimônio /no celibato / solteiro - apóstolo)

Assim todo cristão solteiro ou casado, batizado em Cristo, tornando-' se membro da sua Igreja, é convocado a ser apóstolo, anunciador do Reino de Deus, exercendo funções temporais. O leigo vive na secularidade e exerce sua missão insubstituível nos ofícios e trabalhos deste mundo. O Concilio Vaticano II sublinhou que a vocação e a missão do leigo "contribuem para a santificação do mundo, como fermento na  massa'. (LG31)

Vocação ao ministério ordenado (diácono, padre e bispo)

É uma vocação de carisma particular, é graça, mas passa pela mediação da Igreja particular, pois as vocações são destinadas à Igreja. Acontece num acompanhamento sistemático, amadurecendo as motivações reais da opção. O ministro ordenado preside e coordena os serviços da comunidade. Por intermédio dos sacramentos, celebra a presença de Deus no meio do seu povo. O presbítero é enviado a pastorear e animar a comunidade. Ele é o bom pastor que guia, alimenta, defende e conhece as ovelhas. "Isto exige humanidade, caráter íntegro e maduro, virtudes morais sólidas e personalidade madura". (OT 11)

Vocação à vida consagrada  (ser irmão religioso ou irmã religiosa / vida ativa ou contemplativa)

O religioso é chamado a testemunhar Cristo de uma maneira radical, vivendo uma consagração total nos votos de pobreza, castidade e obediência. Com a pobreza, vivem mais livres dos bens temporais, tornando-se disponíveis para Deus, para a Igreja e para os irmãos. Com a castidade, vivem o amor sem exclusividade, sendo sinal do mundo futuro que há de vir. Com a obediência, imitam a Cristo obediente e fiel à vontade do Pai.

Textos bíblicos
Mateus 25,14-30; João 14, 5 - 7
Leia estes textos com calma, um de cada vez, procurando trazê-los para a sua vida.

Precisamos distinguir bem vocação de profissão, pois não são exatamente a mesma coisa. Veja o quadro abaixo e observe a distinção entre uma e outra:
A profissão dignifica a pessoa quando é exercida com amor, espírito de serviço e responsabilidade. A vocação vivida na fidelidade e na alegria confere ao exercício da profissão uma beleza particular, é o caminho de santidade
Profissão
Vocação
1.aptidão ou escolha pessoal para exercer um trabalho
1.chamado de Deus para uma missão, que se origina na pessoa como reação-aspiração do ser
2.preocupação principal: o "ter", o sustento da vida
2.preocupação exclusiva: "o ser" , o amor e o serviço
3. pode ser trocada
3.é para sempre
4.é exercida em determinadas horas
4.é vivida 24 horas por dia
5. tem remuneração
5.não tem remuneração ou salário
6.tem aposentadoria
6.não tem aposentadoria
7.quando não é exercida, falta o necessário para viver
7.vive da providência divina
8.na profissão eu faço
8.ha vocação eu vivo

 e
A profissão dignifica a pessoa quando é exercida com amor, espírito de serviço e responsabilidade. A vocação vivida na fidelidade e na alegria confere ao exercício da profissão uma beleza particular, é o caminho de santidade.

Fonte: Catequisar
Vocação: um desafio, uma conquista


Descubra a sua e, certamente, encontrará prazer em realizá-la.


Conhecemos muitas pessoas que dizem amar sua profissão, seu trabalho e que, até mesmo, o faria sem remuneração. O prazer no cumprimento daquilo que nos identifica sobrepuja qualquer outra necessidade aparente.

Certamente, muitos de nós já ouvimos perguntas como: “O que você vai ser quando crescer?”, “O que você fará após o colegial?”, “Que profissão você seguirá?”. Numa pergunta simples está contido, implicitamente, o desafio de perceber, por meio das nossas habilidades, as leves indicações que demonstrarão nossa simpatia por determinada atividade. Embalados por esta simpatia, somos atraídos em assumir o que, possivelmente, deveremos abraçar como vocação. 
Qual seria a incógnita que decifraria os resultados da certeza de nossa vocação? Se esta fosse um organismo vivo, qual seria o código genético que a comporia?  A partir desse momento, assumimos atitudes que auxiliarão na concretização da vivência daquilo que acreditamos ser nosso chamado, ainda que em estágio embrionário.
O contato com pessoas que já têm definidas suas vocações é muito importante para aqueles que ainda vivem seu estado de discernimento. Ao contrário do que poderíamos pensar  uma pessoa que se diz realizada em sua vocação não está isenta de dificuldades e provações; contudo, sente-se investida de uma força que sempre a impulsionará a continuar com alegria na sua caminhada para as novas descobertas.
Para cada um há um chamado que ressoa desde o princípio em nossa alma, um chamado específico para a realização de uma missão também específica. Interessante considerarmos que para determinada missão ninguém poderá nos substituir para o seu cumprimento plenamente, pois, da mesma maneira que eu não teria o zelo de um jardineiro vocacionado ao seu jardim, outros não teriam o mesmo zelo para com aquilo que a você foi reservado como missão.
Incrustada na rocha dos nossos desafios, está a joia da nossa vocação. A cada novo desafio, a cada conquista, fundamenta-se em nosso ser a certeza de que, realmente, estamos lapidando uma pedra de valor ímpar. A dedicação e a persistência, no desejo de levar a cabo o que sentimos, revigoram nossas forças.

Fonte: Dado Moura

Seja sal, luz e fermento no mundo

Ide vós também para a minha vinha

O Povo de Deus, conduzido por Moisés através do deserto, rumo à Terra Prometida, passou por muitas e diversificadas crises. O próprio Moisés teve suas dificuldades, pois deveria conduzir uma multidão de gente de "cabeça dura". Como muitos líderes de todas as épocas da história, a conselho de seu sogro (Cf. Ex 18,1-27), aprendeu a compartilhar seu trabalho com homens escolhidos sem acumular, nas próprias mãos, o poder e as múltiplas tarefas que comportava o cuidado da viagem pelo deserto. Aarão, Josué e tantos outros encontraram seu lugar para viver ao lado de Moisés o chamado que lhes era próprio.
O correr da história sagrada apresenta juízes, profetas e reis, todos chamados a exercer um serviço inestimável, chamados e inspirados por Deus. E que dizer de mulheres fortes, como Sara, Rute, Judite, Débora e muitas outras? Muitas foram as pessoas conduzidas pelo Espírito do Senhor, cuja lembrança a Escritura registra, para que as sucessivas gerações estivessem abertas ao apelo de Deus. E não foram poucas as circunstâncias e os desafios experimentados por todas estas pessoas, preciosas aos olhos de Deus.
Os Evangelhos se abrem com a graça do chamado: Maria e José, Zacarias e Isabel, Simeão e a profetiza Ana, os discípulos de Jesus e, dentre eles, os doze apóstolos. E do meio do povo que seguia Jesus, conversões, curas, seguimento estrito do Senhor se multiplica, oferecendo a moldura para toda aventura que se chame humana. Mais adiante, no Tempo do Espírito, relatado pelos Atos dos Apóstolos, entra na lista ler e rezar a Escritura Sagrada, ato de envolver-se com o mistério do chamado, a graça da vocação.

Homens firmes e provados, como os primeiros diáconos, convertidos como o eunuco da estrada de Gaza, o centurião Cornélio ou, mais do que todos, São Paulo, o apóstolo das gentes. Em todos, resplandece as armadilhas de amor tramadas por Deus para a graça do chamado.

Na Igreja de Jesus Cristo, em todas as épocas e situações, a realidade do chamado se faz presente. Vocação foi o chamado de eremitas e monges, cuja solidão foi habitada pela presença do Senhor e pelas muitas pessoas que, desde o princípio, foram atrás deles, porque procuravam Deus. Sua vida suscitou seguidores e, até hoje, existem e sempre existirão pessoas chamadas ao silêncio e ao claustro. Vocação são os grandes carismas, a pobreza com São Francisco, a contemplação com São João da Cruz e Santa Teresa D’Ávila, a pregação com São Domingos.

Vocação foi o apelo de Deus para o surgimento das Ordens e Congregações Religiosas, criadas para responder aos desafios sociais, à educação das crianças, adolescentes e jovens, ao cuidado da saúde, como as famílias de pessoas consagradas que Deus inspirou no século dezenove e no início do século vinte ou muitas Congregações missionárias. Vocação são as novas formas de dedicação a Deus, chamadas “Comunidades Novas”.
Desde o princípio, o Senhor chamou homens para o episcopado, o presbiterado e o diaconato, o ministério ordenado, para o serviço da Palavra, do Altar e do Pastoreio. Trata-se de um chamado específico dentro da Igreja, são as vocações que brotam em nossas comunidades paroquiais.
Se alguém não se sentir tocado por tais “vagas” de trabalho, certamente é porque seu lugar, de uma imensa e qualificada maioria, é a do leigo ou leiga, presente na Igreja, comprometido com os valores do Evangelho, vocação magnífica para ser sal, luz e fermento no mundo, oferecendo-se como hóstia agradável a Deus. Mais ainda! Que lugar carregado de dignidade é aquele ocupado pelas pessoas chamadas ao matrimônio, homens e mulheres encarregados de realizar, nos lares cristãos, a imagem do relacionamento existente na família mais perfeita, Pai e Filho e Espírito Santo.
Existe um mistério que toca, de perto, todos os homens e mulheres batizados, sem exceção, no olhar pessoal de Deus, nosso Criador e Guia, que quer dizer, de novo, neste mês dedicado às vocações (Cf. Mt 20,1-16): “Por que estais aí o dia inteiro desocupados? Ide vós também para a minha vinha”. Deus acompanha os fiéis e os cumula com Sua inesgotável bondade, restaurando o que por Ele mesmo foi criado e conservando o que foi restaurado. Há muito a fazer, quando as pessoas, mesmo quando não se expressam assim, gritam insistentemente (Jo 6,28): “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Quem acolhe Sua graça não pode ficar indiferente! O mundo em que vivemos clama pela nossa resposta ao chamado de Deus e pelo nosso testemunho qualificado, grita pela nossa vocação!

Fonte: Dom Alberto Taveira

Seguindo o exemplo da Virgem Maria


Tudo está submetido ao poder de Deus


Não sabemos para onde apontam os sinais da realidade brasileira em momentos de campanhas eleitorais e do cenário de julgamento do mensalão. Será que, em tudo isso, está à vitória do povo brasileiro? Quem sairá ganhando? Quem vai perder? É a grande incógnita de um país que não prima pela justiça.A Festa da Assunção de Maria contempla a vitória de Jesus Cristo sobre todos os poderes que tentam impedir a construção do reino de Deus. Maria é sinal da Igreja, cuja missão é conduzir o povo para a condição de liberdade e de vida feliz. Isto acontece na prática da fraternidade e da partilha em gesto de justiça.

A fé e o compromisso com o reino da vida são fundamentais. Isto é condição para que a pessoa seja sinal e aponte para o bem de forma correta. A fé na Palavra de Deus gera compromisso e faz das pessoas discípulas e missionárias de uma cultura de paz. Isto supõe dizer nas palavras de Maria: “Eis a serva do Senhor” (Lc 1, 38).

Quando vamos ao encontro do outro, como fez Maria em relação à Isabel, algo de revelador acontece. A generosidade, o serviço, o querer ajudar os mais necessitados acaba sendo sinal da presença de Deus, fazendo a pessoa superar todo tipo de atitude egocêntrica, egoísta e alheia às carências dos marginalizados da comunidade.

Tudo na natureza e na
história está submetido ao poder de Deus, mas é uma realidade também sujeita à ação do mal. O Apocalipse apresenta a figura do “dragão” que está, a todo o momento, desarticulando os planos do Criador. É o retrato de quem sinaliza o poder destruidor, seja de autoridades ou de pessoas comuns.

Não podemos viver esperanças vãs nem uma fé inútil, porque deixamos de ser sinal de vida para o mundo. Maria, com muitos títulos, foi sinal de uma nova realidade. 
Ela é sinal da Igreja com a missão de levar Cristo para as pessoas.

Fonte Dom Paulo Mendes Peixoto

terça-feira, 14 de agosto de 2012

GRAÇA SANTIFICANTE


«Jesus, lembra-Te de mim quando entrares no Teu reino». Ele respondeu-lhe : «Em verdade te digo : Hoje estarás comigo no Paraíso».(Lc.23,42-43).


Como definição simples, a Graça é o Dom da presença de Deus que nos ama e a transformação do homem n'Ele.

Diz o Catecismo da Igreja Católica:

1996. - A nossa justificação vem da graça de Deus. A Graça é um favor, o socorro gratuito que Deus nos dá, a fim de respondermos ao seu chamamento para nos tomarmos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina, e da vida eterna.

Deus está presente de maneira natural na pessoa que O reconhece na obra da Criação e o aceita como Senhor de tudo o que existe.

Mas pela Graça Deus torna-se presente na consciência humana de maneira especial.

Pela fé Ele é perceptível como o próprio Amor que oferece ao homem a participação na Sua própria vida, uma relação de amizade com Ele muito mais íntima do que tem o Criador com a Sua criatura, uma certa experiência de vida familiar com Deus.

Diz o Catecismo da Igreja Católica:

1997. - A Graça é uma participação na vida de Deus, introduz-nos na intimidade da vida trinitária: pelo Batismo, o cristão participa da graça de Cristo, Cabeça do seu Corpo; como «filho adotivo», pode, a partir daí, chamar «Pai» a Deus, em união com seu Filho Unigênito; e recebe a vida do Espírito, que lhe infunde a caridade e forma a Igreja.

Deus define-se como o Amor e dá-se a conhecer pela Revelação nas Sagradas Escrituras.

No Antigo Testamento Deus revela-se, concedendo favores e prosperidade, aceitando os sacrifícios do Seu Povo, defendendo-o dos seus inimigos, dando-lhe uma proteção especial e dando a conhecer a Sua vontade pelos Seus Mandamentos.

Deus perdoa também ao Seu Povo e diz quem é e estabelece a Sua Aliança com o Seu Povo para sempre.

No Novo Testamento a palavra Graça só aparece em S. João:

- E nós vimos a Sua glória, glória que lhe vem do Pai, como Filho Único, cheio de Graça e de verdade. (Jo. 1,14).

Todavia a ideia de "Dom" ou de qualquer coisa que nos "será dado ou confiado", aparece constantemente no Novo Testamento:

- O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus
frutos.(Mt.21,42).

- Ele que não poupou o próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos dar também, com Ele, todas as coisas? (Rom.8,32).

Quando o homem responde à oferta do dom do Amor de Deus, entregando-se totalmente a Ele, transcende a sua antiga condição de pecador, recebe uma capacidade e um incentivo para crescer mais no amor, para partilhar a sua vida e a sua liberdade com Deus e torna-se uma imagem mais completa e perfeita do Homem-Deus, Jesus Cristo.

A Graça ou dom do Amor de Deus, não nos tira a nossa liberdade nem nos isenta da lei, mas torna-nos mais fiéis, tanto ao amor de Deus e do próximo como ao cumprimento da lei.
Também não nos livra do pecado, mas dá-nos uma força maior para lhe resistir porque não pode coexistir o amor a Deus e o pecado.

Estado de Graça

A Graça envolve a transformação da alma, a qual permanece e atua num novo nível interpessoal, conhecendo e amando a Deus e as outras pessoas n'Ele.

Chama-se a esta Graça, Graça Atual ou Graça Santificante, e qualifica a existência daquele que a possui.

A alma assim classificada, diz-se que está em Estado de Graça, e é este o estado exigido para se receber a Sagrada Comunhão.

Segundo a Tradição, o Estado de Graça pode perder-se, por um pecado grave ou sério, e voltar a adquirir-se pelo arrependimento e pela confissão sacramental.

Segundo a Escritura, o Batismo torna a pessoa uma nova criatura, pelo renascimento e pela infusão do Espírito Santo.

Esta permanente, interior e eficaz comunicação e habitação do Espírito Santo, é a Graça Santificante.

Ela inunda toda a alma, a inteligência, a vontade e o coração.

Torna santos todos àqueles que possuem este dom, concedendo-lhes a participação na vida divina.

Esta Graça produz a conversão, a transformação de todas as predisposições de cada um.

O Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática sobre a Santa Igreja: decreta:

- Além disso, este mesmo Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos Sacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas "distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz" (l Cor.12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas
as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tornar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas
palavras : "a cada qual se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum" (l Cor.12,7).Estes carismas, quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com ação de graças e consolação, por serem muito acomodados e úteis às necessidades da Igreja.(LG 12).

Diz o Catecismo da Igreja Católica:

2000. – A Graça Santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural, que aperfeiçoa a alma, mesmo para torná-la capaz de viver com Deus e de agir por seu amor. Devemos distinguir a graça habitual, disposição permanente a viver e agir segundo o apelo divino, e as graças atuais, que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decurso da obra de santificação.

O Estado de Graça Santificante, é o estado exigido para se alcançar a Vida Eterna porque sem esta união a Deus cá na terra, não é possível a vida de união a Deus na Visão Beatífica.

Daí o cuidado em viver permanentemente na Graça de Deus, porque ninguém sabe o dia e a hora em que pode comparecer na presença de Deus e, uma morte súbita, sem preparação, sem o estado de graça, significa uma separação eterna!


Fonte: Universo Católico

JOÃO EVANGELISTA
A OUSADIA DO JOVEM

 “E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados” (I Jo 4,10)


João Evangelista, pela descrição dos evangelhos, era filho de Zebedeu e Maria Salomé. Como o pai, era pescador e exercia sua função no lago Genezaré, com seu irmão Tiago. Desde sempre, cultivava o amor profundo a Deus e, discípulo de João Batista que era, desde cedo alimentara com o batismo a esperança de um messias prometido. Após o anúncio do Precursor de que já era chegada a hora da redenção, na pessoa de Jesus Cristo e após o batismo deste
último, João ver inflamar em si o ardor missionário e a  certeza da obra de salvação sendo revelada para si. “Farei de vós pescadores de homens”, tal era o chamado imperioso dado pelo Mestre que viria a ecoar em seu simples coração juvenil, de apenas quinze anos.

Desde a inauguração do Colegiado dos Apóstolos, João se destacara por sua ingenuidade e perspicácia, acatando com pureza os grandes mistérios de vida que lhe eram soprados pelo Salvador. Viram em sua figura os estudiosos que sobre ele se debruçaram um toque de feminilidade e sentimentalismo, atingindo o coração da comunidade cristã que nascia e de seu Mestre e tornando-se um baluarte de caridade e mansidão, que viriam a marcar toda a sua
obra e o seu exemplo de vida.

Tais revelações permitem-nos concordar com a Tradição, que nos apresenta João como o primeiro devoto do Coração de Jesus, demonstrado no aconchego que Jesus deu a seu discípulo amado por ocasião da Santa Ceia, na qual, segundo nos ensina Santo Agostinho, teria ele absorvido os mais altos segredos e mistérios que depois seriam derramados sobre a Igreja.
Conhecido como o “Apóstolo Virgem”, João nos é lembrado também como custódia da Virgem Mãe de Deus. A missão, dada a si por Jesus no ápice de Sua Paixão, nos revela a
sensibilidade inata deste discípulo de acolher a verdade plena de Maria e de pô-la em prática, nas virtudes do silêncio e da compreensão. A coragem e o ferrenho amor de João o leva a percorrer com o Mestre todos os passos da paixão, sem fraquezas ou covardia, e a presenciar
seu martírio e dar testemunho da clarividência deste episódio.

O “Teólogo” , como assim a Igreja o denomina, percorreu um imenso caminho em sua valorosa
busca pelo conhecimento das coisas de Deus. Esteve em Jerusalém, no ano 37, e depois por ocasião do Concílio dos Apóstolos. Transferiu-se com Pedro para Samaria, onde realizaram grandiosa evangelização. Depois, mudou-se para Éfeso, onde viveu até o fim da vida e foi sepultado. A partir desta cidade, prestou assistência a muitas Igrejas da província da Ásia, escreveu o quarto evangelho (o último deles) e sua três epístolas, dedicadas aos cristãos em
geral. Por meio de sua obra, João operou uma transformação intensa na comunidade cristã que nascia, impregnando-as com seu vigor piedoso e com sua coragem em revelar as maravilhas divinas.

Durante o governo de Domiciano (81-96), foi exilado na ilha de Patmos, na qual escreveu o último livro de Bíblia, o Apocalipse, predizendo todo o calvário a ser sofrido pela Igreja em sua peregrinação terrestre até a sua vitória final, subjugando a morte e o pecado. Este mesmo imperador o levou ao martírio, na cidade de Roma, colocando-o num caldeirão de água fervente, de onde saiu rejuvenescido e sem dano algum. Tal episódio é comemorado pela Igreja no dia 6 de maio.

Numa atitude de extremo amor a Jesus e à obra de salvação, João pede, junto de seu irmão Tiago, ao Mestre que sejam eles colocados lado a lado de Jesus na implantação de Seu Reino.
Neste hora, Jesus os proclama e nos faz refletir que para alcançar a glória plena em seu nome, é necessário beber o cálice do fel, a que prontamente o discípulo aquiesce. Tendo ganho o cognome de “Boanerges”, que significa “filhos do trovão”, por seu zelo e compaixão pela
herança deixada nas palavras e ensinamentos do Salvador, tornaram-se, juntamente com Pedro, os principais dentre os apóstolos, a liderar o movimento de evangelização e
implementação das graças abundantes da pessoa do Cristo e na instauração de Seu Reino de amor.

Calcado em profunda teologia, oriunda da extrema intimidade com Jesus, João apresenta-nos, em seu Evangelho, Jesus “à luz da transcendência do ressuscitado, do pré-existente”, nas palavras do padre jesuíta João Batista Libânio. Difere-se dos outros três evangelhos por enfocar mais o aspecto espiritual de Jesus, ou seja, Sua vida e obra baseadas no mistério da Encarnação: o Verbo que se faz Carne e dá vida aos homens. Além disso, ele concentra o foco da narrativa em sete milagres, ou sete sinais, por meio dos quais ele tece uma espécie de meditação, na qual procura desenvolver e divulgar o conteúdo da catequese difundida no seio de sua comunidade. Lembra-nos, a todo o momento, o caminho seguro da fé e do amor para se ter a vida eterna (Jo 20, 30-31).

O amor é tema recorrente em sua obra, principalmente na sua Primeira Carta, escrita em
Éfeso, na qual se desenvolve uma verdadeira doutrina de amor, baseada na perseverança nos caminhos da luz e na obediência para se alcançar a Graça de Deus. Como aprofundando a mensagem cristã, João nos prova definitivamente que Deus é Amor, profundo e radical,
experiência pela qual ele mesmo passou. “Porque esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros” (I Jo 3, 11), resta-nos o saldo da graça que ele nos deixou gravado no coração como exemplo a ser explorado em nosso cotidiano”.

Num tempo de tamanha descartabilidade nos relacionamentos, de tanta indiferença à afetuosidade, João nos convida a olhar o mundo e o próximo na radicalidade e na profundeza do amor de Deus, doando-se e recebendo amor numa troca infinita. Ele nos ensina que a prática da justiça é amar o irmão (I Jo 3, 3-10), rompendo com tudo aquilo que nos separa de Deus e de nossos semelhantes.

É de capital relevância falar de João para os jovens, tendo ele mesmo sido um jovem a descobrir a Graça divina na eterna descoberta da Verdade e na prática e na vivência da
Castidade. João parece travestir em sua vida a vida da Virgem Maria, sua pureza e silencio, que numa atitude de temor, respeito e contagiante fé, revela-nos a importância de guardar as coisas de Deus em nossos corações e revelá-las à luz da oração.

A juventude, para ver revelada diante de si a obra divina da caridade, há de se espelhar na ousadia de João em se lançar plenamente nos santos mistérios, a descobrir a vida em Deus nos recantos recônditos de nossa alma, incluindo-se aí nossos medos, angústia e decepções. Em João vemos a obediência, sua atitude de criança ávida de amor à qual Jesus tanto apreciava, e a plena abertura para a Graça e o Amor de Deus.

Auscultando o pulsar do coração divino nas belas palavras do Evangelho joanino, o jovem tem a oportunidade de perceber o quão valorosa é a amizade de Deus em sua vida, tomando por base a intensa intimidade e o prestimoso afeto que João dedicou, não só a Jesus e à sua herança, mas a todos os homens, como forma de ilustrar a grandeza da Misericórdia de Deus na nossa vida. Os mais grandiosos mistérios de Deus nos são revelados de forma extremamente simples, para que nós, assim como João, percebamos a mensagem de Deus com a pequenez e anulação total de uma criança que se deixa embalar suavemente.

Aquele que passa incólume pela provação tem muito a ensinar a nós, que passamos por um sem número de experiências que nos afastam do Amor de Deus e de Sua Graça. Diante de tantos desafios a suplantar, dos falsos prazeres e das falsas afirmações, João se mostra na
coragem de filho de Deus, que soube, assim como o Mestre, dar testemunho do Pai a todos os seus companheiros e a toda a humanidade e alcançar de Jesus a beleza e a magnificência de Sua Benevolência. Os jovens, assim como João, devem gravar em seu coração a certeza da redenção na pessoa de Jesus, e assim como o apóstolo aceitar o convite do salvador: “Eu vos farei pescadores de homens” (Mc 1, 17).


Fonte: Universo Católico

terça-feira, 19 de junho de 2012

Catequese: lugar de encontro com Jesus Cristo vivo

O Projeto Nacional de Evangelização, Queremos Ver Jesus -Caminho, Verdade e Vida quer, de fato, ajudar os cristãos de todo o Brasil a fazerem a experiência pessoal e na comunidade, com o Cristo ressuscitado. A catequese, principalmente a partir do documento Catequese Renovada, acentua fortemente a centralidade de Jesus Cristo na educação da fé. "A catequese sempre foi considerada pela
Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque Cristo ressuscitado, antes de voltar para junto do Pai, deu aos apóstolos uma última ordem: fazerem discípulos de todas as nações e ensinarem-lhes a observar tudo aquilo que ele lhes havia mandado"(CT 1).
O encontro com o Cristo vivo leva, necessariamente, o catequizando à conversão, a uma mudança de vida. De fato, a catequese, procura favorecer este encontro pessoal e comunitário com Jesus. "No centro da catequese nós encontramos especialmente uma pessoa: é a Pessoa de Jesus de Nazaré, Filho único do Pai, cheio de graça e de verdade, que sofreu e morreu por nós, e que agora, ressuscitado, vive conosco para sempre. É este mesmo Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida e a vida cristã consiste em seguir a Cristo"(CT 5). É missão da catequese o acompanhamento das pessoas nas diversas fases da vida. O Projeto de Evangelização comunga da mesma idéia ao afirmar que: "as pessoas precisam ser acompanhadas nas diversas fases da vida, num clima de solidariedade fraterna, de companheirismo, com um relacionamento que seja o próprio retrato da atenção que Jesus dava às pessoas e do amor com que Deus vê cada um dos seus filhos e filhas"(Documentos da CNBB, nº 72, p. 17). A formação catequética não se limita somente a crianças, adolescentes e jovens, mas é uma formação permanente. A catequese é um itinerário de formação na fé, esperança e caridade. Forma o catequizando para acolher com alegria a mensagem evangélica e ajudar a outros a encontrarem pessoalmente o Senhor. "O desejo ardente de convidar os outros para se encontrarem com aquele que nós encontramos está na raiz da missão evangelizadora a que é chamada toda a Igreja, mas que é sentida com particular urgência hoje..."(Ecclesia in America, 68). Nós, como Comissão para a Animação Bíblico Catequética, a partir do Projeto Nacional de Evangelização, procuraremos:

1. Anunciar e testemunhar a Pessoa de Jesus Cristo vivo;
2. Proporcionar aos catequistas e catequizandos o encontro
pessoal com Jesus Cristo, a fim de que todos possam segui-lo com convicção;
3. Investir na formação dos catequistas a partir dos três passos pedagógicos de Jesus:
a) Conversão: Jesus converteu as pessoas, chamou-as pessoalmente pelo nome. A catequese também é um processo de conversão, procura despertar e educar na fé em nível pessoal e comunitário;
b) Vivência comunitária. A exemplo do ensinamento de Jesus aos apóstolos, despertar a prática do amor fraterno;
c) Construção de uma sociedade justa e solidária. Jesus inseriu-se no contexto social de sua época e ensinou como se constrói uma sociedade igualitária e anunciou a conversão como meio e instrumento pedagógico na construção de um mundo mais justo e fraterno.
4. Através do Ministério da Palavra, da Liturgia e da
Caridade, proporcionar aos catequistas a experiência profunda com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e vida;
5. Possibilitar aos catequistas e catequizandos a descobrirem, na Sagrada Escritura, os lugares da experiência e do encontro de Jesus com as pessoas;
6. Fomentar e fortalecer a Animação Bíblica, como itinerário
de crescimento e amadurecimento na fé que leva a um compromisso comunitário, impulsionando para a missão;
7. Investir na criação dos círculos bíblicos e grupos de reflexão, onde ainda não existe, como espaço do encontro
pessoal e comunitário com a Palavra;
8. Intensificar a catequese com adultos, com especial atenção à iniciação cristã. Conclamamos a todos os catequistas e animadores dos círculos bíblicos, a abraçarem com alegria e entusiasmo a missão de fazer ecoar a Palavra de Deus em todos os cantos do nosso querido país.

Fonte: Dom Eugênio Rixen